Centro Cultural Telemar
Festival do Rio 2006
CAPACETE Entretenimentos
Apresentam
CINEMA CAPACETE VI
loop VI - não é cinema, não é vídeo e nem televisão
Gregor Passens (Alemanha) - Wake Up
João Modé (Brasil) - Solos
Anri Sala (Albânia) - Naturalmystic (tomahawk #2)
19/09 - 18 horas
Mostra somente nos dias 19/09 ao 21/09; das 18 às 20 horas
Os mesmos filmes serão exibidos aleatoriamente nas salas de cinema durante o Festival do Rio 2006, antes das sessões oficiais - 21/09 ao 04/10
Centro Cultural Telemar: Rua Dois de Dezembro, 63 - Flamengo
Informações: 21 3131 3060 ou junto a programação do Festival do Rio 2006
Outras informações sobre o Cinema CAPACETE: http://www.capacete.net/cinema.asp
CINEMA CAPACETE VI
LOOP - NÃO É CINEMA, NÃO É VÍDEO E NEM É TELEVISÃO VI
A mostra "Cinema CAPACETE VI / Loop - não é cinema, não é vídeo e nem é televisão" é o sexto projeto que dá seqüência à proposta do CAPACETE entretenimentos junto ao Festival do Rio 2006 e outros organismos culturis de mostrar e discutir outras formas de linguagem que quebrem, façam explodir e/ou questionem o audiovisual, visto por inúmeros produtores oriundos de diversas expressões artísticas.
O próprio título "Loop", que aqui é usado pela sexta vez consecutiva pretende fortificar os trabalhos dos autores no sentido de que são estes que geram a discussão e não o título qualquer de uma mostra.
A questão aqui não é se resumir dentro da logomarca arte contemporânea apesar de os artistas envolvidos neste projeto fazerem "mais" parte daquela linguagem do que de outra, mas sim a de possibilitar uma inversão de padrões pré-estabelecidos de como vemos as novas mídias, sejam estas a televisão, o vídeo ou o cinema, e outras formas de audiovisual. O que vale é a experiência aqui adquirida.
Na proposta de 2001, a curadoria procurou mostrar trabalhos de artistas contemporâneos que, por razões bastante específicas, escolheram o 35mm, a mídia do cinema, como forma adequada aos seus projetos. Na edição de 2002, o conceito ateve-se em mostrar projetos audiovisuais vistos por produtores da imagem, trabalhando a contextualização na construção da narrativa. Em 2003, a questão era de que forma as artes visuais, por meio do audiovisual, se apoderaram das técnicas, estratégias de mercado e mídia de massa para recriarem seus próprios conteúdos. A proposta da edição de 2004 foi a narrativa cinematográfica conceitualmente presente em todos os projetos. Em 2005 o subtítulo "entre estética e política" apresentou trabalhos em formato de simples projeção nas salas de cinema que contextualizam esta dualidade e confronto.
A versão "Loop" para o ano de 2006 pretende exibir e discutir trabalhos artísticos que poderiam ser exibidos tanto em uma mostra de cinema, como é o caso do Festival de Cinema do Rio (uma tela em um espaço de sala de cinema), quanto dentro de um contexto de exibição (cubo branco, etc.). A questão em jogo é esta dupla estetização e suas conseqüências em forma de linguagem.
Cinema Capacete VI / Loop - não é cinema, não é vídeo e nem é televisão apresenta instalações dos artistas Anri Sala (Albânia) e Gregor Passens (Alemanha) e a estréia do novo filme de João Modé (Brasil).
Textos dos projetos:
Wake up = George Passens
Para este vídeo, "Wake up"(2005), o artista alemão Gregor Passens simulou uma erupção vulcânica nos terras altas argentinas na exata hora do amanhecer. Pássaros estão voando e pequenas chamas iluminam o céu. Essa erupção é razoavelmente moderada e, além de alguns pássaros que saem em revoada devido ao ruído, ninguém realmente se assusta com ela. No fundo, a erupção não é sequer uma erupção vulcânica, mas apenas um espocar de fogos de artifício. Na realidade, o vulcão de Antofagasta, agora servindo como cenário, não entrou em erupção nos últimos 2.000 anos e, desde então, é tido como extinto.
Como uma metáfora violenta, as erupções vulcânicas representam o anseio das vanguardas por forças estéticas capazes de inundar o domínio da vida cotidiana, carregando consigo o mundo para além do mundo da arte. Com o amanhecer que precede no tempo esse acontecimento, as erupções passam a simbolizar também o aumento na densidade de alguma forma de energia coletiva bruta no interior de um Zeitgeist histórico ou revolucionário. O filósofo político revolucionário Cornelius Castoriadis utiliza a mesma imagem. Ele chama de 'magma' as forças sociais daqueles que produzem com seu potencial de mudança radical.
Mas no vídeo de Passens, esse acontecimento capaz de mudar tudo é, de certa forma, muito suave e estético. De alguma maneira, ele possui uma reserva polida que quase o faz parecer decorativo - especialmente por causa das imagens lindamente compostas do cenário. Mas, ainda assim, lida-se com a idéia brutal, radical e avassaladora de um vulcão. Desse modo, o vídeo de Passens varia entre as bordas da arte e da revolução, nas borda estética e política, sem efetivamente se decidir por nenhum dos lados. Nesse monumentalismo irônico, pode-se encontrar tanto o desejo nostálgico do acontecimento revolucionário (estético ou político) quanto sua limitação e fracasso. O conjunto todo permanece ambivalente e deixa algumas questões em aberto: Pode existir o magma? A arte ainda muda a vida? O vulcão das vanguardas ainda está ativo? Devemos mesmo ansiar por esse tipo de vulcão?
Naturalmystic (tomahawk #2) = Anri Sala
Este vídeo se passa em um estúdio de som, num ambiente normalmente oculto para a visão. O ator se encontra espremido entre um equipamento de bateria e um microfone (um instrumento de som análogo e um mecanismo eletrônico de gravação). Ele coloca a mão sobre seu ouvido direito e começa, então, a assoviar um som que imita o som crescendo de uma bomba que cai, completando com um fraco ruído de "bum" que corresponde à explosão. O ator repete o gesto três vezes antes que o vídeo acabe. A última tentativa soa mais convincente do que a primeira e a penúltima parece reproduzir o ruído de uma explosão distante. Embora haja alguma diferença entre esses esforços, a repetição parece significar menos 'diversas bombas diferentes' do que representar o impacto traumático de um conflito. Após a Primeira Guerra Mundial, Freud analisou o modo como soldados traumatizados sonhavam repetidamente com o momento de seus acidentes, acordando todas as vezes com um susto renovado. 'Fixados aos [seus] traumas', eles eram incapazes de elaborar algo além daquilo'. Aqui, as evocações repetidas dos sons de bombas nos fazem pensar não apenas na memória da destruição, mas também nos efeitos traumáticos dessa memória no presente. Entretanto, um outro som na obra nos impede de identificar o homem com a vítima. No começo do vídeo, vemos duas mãos que batem no local em que está uma ripa do telhado. A inclusão desse tipo de seqüência age como o recurso de distanciamento do filme Entrevista [Fellini]: notamos, logo na abertura do vídeo, a construção da cena, do mesmo modo que a batida nos prepara para levar em consideração a substituição do som mecânico pelo som humano.
Entre o zumbido da bomba que cai e o bum da explosão há um curto período de silêncio. Ele corresponde ao momento em que o míssil Tomahawk pausa no ar para receber a confirmação de que está na rota certa para seu alvo. (Se os responsáveis identificam um erro, este é o momento para redirecionar o míssil) O ator foi capaz de reproduzir não apenas o som de bombas caindo como também a natureza precisa da arma específica que é usada. Essa ausência de ruído durante a pausa é, entretanto, de longe, o elemento sonoro mais arrepiante; momentaneamente há a promessa de que o desastre será adiado, mas a explosão acaba ocorrendo.
Solos = João Modé
Solos férteis: sobre 'Solos' de João Modé
Solidão e liberdade são aspectos que se fazem inexoravelmente presentes em Solos, de João Modé. O trabalho foi desenvolvido durante sua participação no projeto Road, uma iniciativa do Capacete Entretenimentos, dentro do qual funciona o programa de 'residência móvel'. Focalizando as regiões da América do Sul e Central, essa iniciativa oferece ao artista convidado a oportunidade de desenvolver sua pesquisa em situações de deslocamento. A proposta de Modé para Road foi investigar a própria viagem e o que decorresse dessa experiência como trabalho, uma espécie de 'work in progress_site specific_on the road'.
Alguns fragmentos dos registros realizados por João nesta viagem, estão sendo usados para a realização do vídeo intitulado Solos. As cenas capturadas pelo artista mostram cães que surgem completamente isolados, margeando a árida paisagem das estradas peruanas. Estranhos e estrangeiros, não estão acompanhados de pessoas, nem mesmo se organizam em matilhas. Vagando na imagem desértica capturada no vídeo, esses 'cães andarilhos' apresentam características às vezes diametralmente opostas - peludos/pelados, magros/robustos, ariscos/amistosos - e sua reação à câmera é igualmente diversa: alguns se põem estáticos e atentos, observando a quem os olha; outros seguem o caminho, peregrinos à deriva.
O non-sense, a impossibilidade e a disparidade ali contidas nos impõem dúvidas acerca da capacidade de sobrevivência daqueles seres, nos levando a perguntar: Seriam cães selvagens? Estariam vigiando algum tipo de comunidade, desconhecida até mesmo pelos habitantes das redondezas, que negam a existência de pessoas vivendo nas proximidades daquelas rodovias? Como se mantém vivos, os Solos? Na realidade é muito difícil responder ao certo. Contudo a realidade por vezes nos revela algo na crueza do acontecimento, ao mesmo tempo em que nos permite achar algumas respostas (e muitas perguntas). Seria esse encontro, uma experiência do 'espaço entre', que se coloca como distância entre real e onírico, infra(in)fin(it)o[i] <#_edn1> ?
"O mais fundo está sempre na superfície"[ii] <#_edn2> . Na superfície do real o artista tenta cavar, escarificar, desenhar, tocar de alguma maneira um ponto de convergência com o que ele quer tornar linguagem. "A arte não existe, ela é"[iii] <#_edn3> e aguarda calmamente, pousada na vida, a intervenção do gesto do artista para torná-la Real[iv] <#_edn4> , fragmentá-la, revivê-la e fazer com que o outro, de algum modo, também tenha acesso a esse Real, oferecendo a esse outro algo para "enterrar em si"[v] <#_edn5> e, em contrapartida, realimentando-se desta possibilidade de troca.
Capturar, recolher, reativar e rearticular 'excertos da realidade' são procedimentos presentes no horizonte poético de João Modé, tanto em Solos como em suas outras obras, em vídeos ou fotografias, objetos ou instalações. Uma obra indicial dessa operação é realizada em 2002 onde o artista, ao 'descascar' as paredes de um quarto de hotel em um antigo sobrado, configura uma ação que (des/re)vela alguns dos possíveis vestígios materiais da realidade pregressa daquele lugar[vi] <#_edn6> e os conecta a uma outra realidade, a do 'espaço fora', através de uma corda de algodão e sisal.
Esses são apenas trechos dos solos que Modé nos oferece como perspectiva. Tais solos férteis são territórios nos quais é possível 'semear-se'; seja o corpo do artista ao plantar suas extremidades na terra[vii] <#_edn7> , germinando-se por sua experiência Real; seja o nosso, via o que ele nos dá a ver. Nesses solos há também espaço para o 'cão andarilho' que em sua errância nos reafirma nossa condição de Solos (aqui nos dois sentidos: tanto 'solitários' quanto 'telúricos') e por vezes, estrangeiros. João desenha - junto a nós - com tramas e em REDE [viii] <#_edn8> , a arquitetura de seu espaço. Espaço esse que pode, também, ser nosso.
Daniela Mattos
[1] Apropriação poética da autora acerca do conceito de "Infrafino" desenvolvido por Marcel Duchamp.
[1] Excerto de poesia. "Viver é super difícil / o mais fundo / está sempre na superfície / (...)" In: Leminski, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo, Círculo do Livro, 1987.
[1] Frase retirada do artigo de Guilherme Vaz, publicado na revista Arte&Ensaios n.12 em 2005.
[1] Apropriação poética da autora acerca do conceito de "Real" de Jacques Lacan.
[1] Excerto da frase "Ver é enterrar em si" do artista Jorge Menna Barreto.
[1] Obra apresentada por João Modé na exposição coletiva "Loves House", realizada por iniciativa da agência Agora em um antigo hotel situado no bairro da Lapa, Rio de Janeiro em 2002.
[1] Fotografia/objeto de João Modé, intitulada "Plantação" e realizada no período de 1996-2004.
[1] Referência ao projeto "REDE" de João Modé realizado no período de 2003-2006.
Cinema CAPACETE 2001-2006
2001
Dominique Gonzáles Foerster (França)
Eija Lisa Athila (Finlândia)
Joahim Koester (Dinamarca)
Sharon Lockhart (USA)
Uri Tzaig (Israel)
2002
Christian Lemmertz & Michael Kvium (Dinamarca)
Marepe (Bahia)
Stephen Dean (França)
Jun Nguyen-Hatsushiba (Vietnam)
Johan Grimonperez (Bélgica)
Ducha (Rio de Janeiro)
Andrea Fraser (EUA)
Seppo Renvall (Finlândia)
2003
Pierre Bismuth (França)
Tiago Carneiro da Cunha (Brasil)
Marcos Chaves (Brasil)
Brice Dellsperger (França)
2004
Zhou Hongxiang (China)
Brígida Baltar (Brasil)
Gabriel Lester (Holand)
Susan Norrie (Australia)
Mickey Roy (França)
Duplus (Argentina)
2005
Angela Detânico e Rafael Lain (Brasil)
Dominique Gonzalez-Foerster (França)
assume vivid astro focus (Brasil/USA)
Thiago Rocha Pitta (Brasil)
Carla Zaccagnini (Brasil)
Sanna Kannisto (Finlândia)
Laura Erber (Brasil)
Lisa Rovner (USA)
Soni Kum (Korea/Japan)